Sempre reclamei por não ter coração, vivia em fuga, sem respirar, apenas rangendo pelos cantos sem vontade nenhuma de que fosse religado na próxima manutenção. Ah, como eu queria poder sentir, mesmo que fossem apenas os sentimentos ruins, mesmo que eu pudesse apenas sofrer. Isso para mim não importa. O que eu quero de verdade é sentir. Apenas.
Passo a passo, andava as margens de uma rua. Seu nome? Vida. Para vocês, talvez isso signifique algo, mas não para mim. É até bom não ser notado, é até bom que ninguém se importe, afinal, se ninguém expressar sentimentos, não irei me culpar por não compreendê-los. Nesta rua cheia de certezas escondidas, vejo uma garota chorando. À mim é aberto sua vida. Vejo tudo o que se passou e tudo o que virá. Pela primeira vez sinto-me indiferente. Como se algo tivesse me tocado. Como se eu tivesse algo para ser tocado.
E logo após de ver tanta tristeza e solidão, enxergar a dor nos olhos de quem não a enxerga, mas sente acima de qualquer coisa, percebi que não me importo de sofrer. Junto às lembranças ruins, senti todas as maravilhas da vida. Senti o quão encantador é ter o vento tocando seu rosto e ter a chance de uma mão quente entrelaçada na sua. As pessoas se importam demais com o que realmente não importa. As pessoas se importam demais até demais. Só queria ter a chance de viver, ou ao menos, sentir.