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sábado, 22 de outubro de 2011

O negro que reluz a esperança


Tudo está tão empoeirado. Parece que ninguém vem aqui há anos. Não sei ao certo se permanecer aqui vai ser o melhor pra mim, carrego tantos problemas respiratórios que a morte já começa até a me vigiar de longe, como se estivesse guardando o caixão. Está amanhecendo, o horário grifado em inúmeros planfetos jogados sobre o piso de cimento se aproxima e o Sol, mesmo com toda a lonjura diz o seu primeiro bom dia.
Ah, claro, essa cena não é a primeira vez que acontece. Na verdade, é apenas um playback do que aconteceu seguidamente durante estes dias. A sutileza do alvorecer encanta até a metade do meu coração que trago comigo mesmo.
É, mais uma vez espero aquele que sempre não vem. Espero todos os dias no mesmo horário o trem das 4h38min. Lentamente me abaixo, pego um daqueles sujos papéis descartados no chão. Uma folha negra com algumas palavras soltas no centro... “Estou chegando; estação woodville – 4h38, plataforma b”. Ao longe vejo aquele garoto de pernas curtas e seu andar engraçado que se aproxima, segura minha mão e me diz: “-Bisvô, o senhor não cansa de vir aqui todos os dias a mais de setenta anos?” e rapidamente a resposta vem à minha mente; “Não enquanto eu não puder por pelo menos mais uma vez tocá-la... que saudade, meu amor”.

6 comentários:

Cecília disse...

Poxa, muito legal *---*

Marcelo Santos disse...

Para quem quiser entender melhor a estória...

*Bastidores*
Richard Blafter, 92 anos. Há mais de 70 anos espera uma antiga amiga, Frierina Rosevoh, ou como ele a chamava, friki. Os dois se conheceram quando Richard tinha apenas 5 anos e Friki, 2. Passavam todo o tempo juntos, mas quando Friki completou nove anos, ela se mudou, mas a distância fez com que eles trocassem cartas, às vezes mensalmente, outras, a cada 4 meses.. Ela se casou, ele teve uma filha. Com o tempo, descobriram que se amavam, ela já era viúva, então resolveu mandar uma carta que continha apenas “Estou chegando”, mas ficou doente e mandou uma ultima carta que nunca chegou ao destinatário. Ele nunca soube que ela havia morrido, então voltava todos os dias esperando o dia em que ela chegaria. Agora, depois de tanto tempo, existem apenas duas coisas que ele espera... a carta que recebeu tornou-se negra e a morte o espera. Richard morre aos 97 anos, na estação woodvile.

Marcelo Santos disse...

As duas coisas que ele esperava: Friki e a morte. A morte parece ter achado ele primeiro.

Karoline Albuquerque disse...

Que lindo *-* Muito bom, Marcelo!

Anônimo disse...

Gente que história liiiiiiinda, tás subindo cada vez mais Celo *-*

Anônimo disse...

muito lindo, meu amigo poeta. - Elyza

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