Pages

domingo, 2 de outubro de 2011

Suspiro


E então o homem olha para baixo. O trem vem à sua direção. Lentamente, no frio do inverno. Estava nevando. Seus olhos, quase cerrados, vão de encontro ao norte, de onde o trem vem. Sem intenção, pisca rapidamente por quatro vezes seguidas para saber se o vinha era de fato real. O frio o paralisara. Após tantos atos, ele apenas fecha os olhos. De vez, para nunca mais o abrir. Assim como uma estrada de ferro que tem um fim, se igualava a sua vida. Os trilhos acabaram agora.

– Dizem que ao morrer, sua vida passa por completa, como se fosse um filme. Quer saber? É verdade. Eu não fui uma pessoa qualquer. Eu era importante no que fazia. Fui casado por três vezes, mas, por causa do meu trabalho, morri sozinho. Pelas três fui largado. Não tive nenhum filho. Passei os primeiros vinte anos da minha vida enfiado nos livros de contabilidade, esforçando-me para ter tudo o que ganhei, com muito esforço. Após a faculdade, estagiei numa das maiores empresas. Aos vinte e cinco, já era sócio sênior. Aos quarenta, multimilionário.

Então, o que eu tenho para dizer resume-se em tão poucas palavras, mas que tantas pessoas a interpretam de um jeito tão errado. Eu estava tão doente, mas não era algo simples, não era vírus ou bactéria. A minha doença chamava-se solidão. Triste erão aqueles que haviam de suportar a minha arrogância. Na verdade, em minha vida não havia amor, muito menos quaisquer outros sentimentos proporcionais. Tudo foi justo, aceito claramente o destino que foi me dado. Nada mais perfeito para fechar com chave de Ouro uma vida decadente, cega. Não, eu não fazia o que eu gostava, mas com o tempo aprendi a empurrar com a barriga. De um tempo pra cá, fiz-me acreditar que eu era de fato nascido pra isso. Então, abandonei todos os meus gostos para satisfazer um vício. Talvez eu tenha sido muito importante para o mundo, ensinar ao mundo as consequências de uma vida assim, mostrar que não vale a pena, talvez por isso, morto prematuramente, carregando na mente apenas quatro palavras: Viva para ser feliz.

0 comentários:

Postar um comentário